“O familiar que quiser ver o paciente longe das drogas, terá que se preparar para vê-lo sofrer”.

Particularmente adoro muito o blog Amando um Dependente Químico, esqueço do tempo lendo, estudando, refletindo com os temas deste blog e quero dividir/divulgar uma postagem super interessante e verdadeira e que dá certo e que é o caminho!



“O familiar que quiser ver o paciente longe das drogas, terá que se preparar para vê-lo sofrer”. (Jorge Jaber)

Eu já havia postado esta frase aqui no blog. Foram as palavras de um especialista, em entrevista a um programa de TV, em maio do ano passado (CLIQUE AQUI,  e assista).

Ver quem amamos, sofrendo, não é nada fácil. Não é mesmo?

Mas, se queremos, de fato, ajudar o nosso familiar, precisamos parar de protegê-lo das consequências do seu uso de drogas.

Mentir para os outros, minimizar as atrocidades cometidas, passar a mão na cabeça, enganar a si mesmo, se expor a riscos, abandonar a vida social, deixar-se de lado, se deixar manipular, são algumas das atitudes comuns nas famílias de dependentes químicos.

Mas, ao contrário do que se pensa, isso não é amor. Pelo menos, não um amor saudável. Isso é codependência, ou seja, um amor tóxico, que enlouquece a família, e atrapalha no processo de recuperação do adicto.

Nesta semana, eu tive uma “prova prática” sobre o assunto.

Como vocês sabem, na quarta-feira, dia 21, meu esposo recaiu. Desta vez não foi apenas um lapso, mas recaída mesmo. Ou seja, voltou aos antigos hábitos compulsivos de uso. Ele passou 17 horas na rua.

Naquela manhã, ele havia voltado de um plantão (home care), e me entregou apenas a metade do valor recebido. Geralmente, ele traz o valor inteiro. E então começou a inventar desculpas (mentiras) sobre o destino do restante do valor. Eu sabia que não era verdade. Mas, já aprendi que não consigo controla-lo. Então não questionei, nem discuti. Sua agitação era nítida. Eu tinha certeza que ele usaria.

Deixamos as crianças na creche. Fui para o trabalho. E ele seguiu o caminho que escolheu para aquele dia.

No caminho para o trabalho, ainda enviei uma mensagem por SMS a ele, dizendo:

“Amor, tente descansar. Faça orações. Deus pode cuidar de nós, e Ele tem coisas boas reservadas para nossas vidas. Acredite. Eu te amo.”

Confesso que, ao enviar essa mensagem, ainda foi uma tentativa de controle da minha parte, tentando fazê-lo pensar. Mas, quando eles estão decididos a usar, parecem um trem desgovernado, e é muito difícil (praticamente impossível) fazê-los desistir desse pensamento obsessivo.

Naquele dia, fui para o curso de Multiplicadores às famílias. E foi o dia da minha palestra. Imaginam como foi difícil? Fiquei muito feliz por conseguir. Cumpri o meu papel. Trabalhei. Levei a mensagem. Falei sobre a codependência e sobre uma forma melhor de viver. E certamente ninguém imaginava o que eu passava naquele dia.

Ainda não consigo me desligar completamente. Nem sei se um dia conseguirei. Minhas palestras sempre são recheadas de brincadeiras e risos, mas naquele dia foi uma palestra mais séria.

Mas, ainda assim, me parabenizei por conseguir... São muitos progressos. Há quatro anos atrás, eu nem teria saído de casa, certamente.

Liguei à tarde, e ele não atendeu. Ainda assim, cumpri o meu horário normal. E, ao voltar para casa, ele não estava, como vocês sabem.

Ele chegou por volta de duas horas da manhã, naquele estado deplorável. Triste demais vê-lo daquele jeito novamente. Não falei nada.

Ele tomou o seu banho. E depois veio, naquele momento de depressão pós-uso, que vocês conhecem. Chorou. Disse que não aguenta mais, etc. Enfim, hoje sei que isso é verdadeiro. Quando eles dizem isso, realmente é o que sentem. Afinal, quem é que se sente feliz e inteiro sendo dominado por um monte de pó ou por uma pedra?!! Eles sofrem sim. Entretanto, os estágios motivacionais do adicto oscilam demais. Por isso, é importante agir rápido quando eles pedem ajuda. Amanhã, ele já poderá pensar que não precisa mais.

Como ele estava ainda alterado, e era madrugada, sugeri que fosse descansar e que conversássemos no dia seguinte.

No dia seguinte (meu niver), ele estava de plantão, e não acordou no horário. Então, eu o acordei, e o fiz ir para o trabalho. Ele estava mal. Pés muito machucados, e certamente com muitas dores no corpo, além dos calafrios. Mas, ainda assim, ele foi.

Gente, não é fácil agir assim. Dói. Mas, hoje sei que não há outro caminho. Ele precisa arcar com as consequências dos seus atos, e não eu. Só assim, ele pode “acordar”!

Ele falou um monte de coisas. Tentou jogar a culpa em mim. Tentou me dizer que estava indo trabalhar doente e tal. E eu fiquei firme. Quando ele deu as costas, desabei a chorar. Afinal, quem disse que é fácil?!!

Segui para o trabalho. Novamente, estava no curso. Chegaram várias mensagens de sua colega de trabalho (que não sabe da sua adicção), me dizendo que ele estava na emergência do hospital, passando mal.

Pelos sintomas descritos, percebi que eram em decorrência do uso, então não fui. Enviei uma mensagem dizendo que não poderia ir, mas que me avisassem caso ele piorasse.

Puts, como doeu. Me senti um monstro. Mas nessa hora, eu me lembrei de tudo o que havia aprendido. “Deixá-lo arcar com as consequências”...

Segui no curso. Cumpri minhas atividades. Venci a codependência. Uma hora de cada vez... A vontade de deixar tudo, e ir vê-lo, era enorme. Mas não fui. E não liguei.

Por volta de 13 horas, ele me ligou, dizendo que havia recebido alta, e que precisava ir para casa. Ele queria que eu fosse buscá-lo. Mais uma vez, foi prova de fogo! Não fui. Permaneci no trabalho, durante todo o expediente.

Sim, por vezes, eu pensava: “E se ele for usar de novo?” “Poly, Poly, você não pode interferir nisso...” Eu me lembrava.

No decorrer do dia, cantaram os parabéns no meu trabalho, recebi muitos abraços, e muitas mensagens de aniversário, inclusive aqui pelo blog e e-mail (obrigada a todos!!!).

E ao retornar, ele estava em casa.

Sim, ele está magoado. “Você nem se importou comigo em uma emergência de hospital”, “Puxa, estou doente”, foram algumas das suas palavras para me comover, e me jogar culpa. Mas, não me deixei levar. Não é o meu marido falando. Ainda é a sua doença, infelizmente.

“Se você estivesse doente no hospital, eu deixaria tudo para estar com você. Mas, você estava lá porque escolheu, e eu não vou ser conivente com isso.” Foi minha resposta.

Daí, em alguns momentos, ele estava bem e motivado para recomeçar. Em outros, batia a depressão. Em outros, irritado. Isso é normal. Sintomas da abstinência.

Ontem, finalmente, ele agiu em seu favor. Foi ao grupo à noite, e marcou uma consulta com o Psiquiatra.

Ele ainda está se deixando levar pelas mentiras da adicção. Mas, acredito que ele vai conseguir sair disso. E estou pedindo a Deus para que isso aconteça logo. E estou cumprindo o meu papel, para que isso aconteça o mais breve possível, ainda que ele não entenda minhas ações.

Tenho uma amiga que entende muito sobre o assunto. E ela me disse: “seja forte, amiga. Isso que você está fazendo agora, realmente é amor...”

Eu o amo. E não estou medindo esforços para ajuda-lo. Ele é meu marido, meu amigo, meu companheiro, pai dos meus filhos. Mas, deixar me levar pelas manipulações da sua doença, ou pelos impulsos da minha doença, não ajudaria em nada.

Espero que logo ele volte a si, e entenda.

Dói muito.

Mas, estou feliz por ter conseguido.

Só por hoje!


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